Em julho de 1972, estudantes e professores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) concluíam um projeto tão inédito quanto ousado: a construção do primeiro computador idealizado, projetado e construído no Brasil.
Para comemorar o 50º aniversário do “Patinho Feio”, como foi batizado o computador, a Poli-USP e a Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE) fizeram uma homenagem a seus construtores em evento realizado no dia 22 de setembro de 2022, no auditório do prédio da Administração da Poli, na Cidade Universitária, em São Paulo.
Na oportunidade, professores da Poli e engenheiros que atuaram na construção do Patinho Feio contaram como o computador pioneiro serviu para incrementar o ensino, a pesquisa e o nascimento da indústria de informática no Brasil. Eles foram agraciados com troféus, entregues por autoridades acadêmicas como o reitor da USP, professor Carlos Carlotti Júnior, o ex-reitor Vahan Agopyan e o atual diretor da Poli, Reinaldo Giudici.
O evento na Poli foi o primeiro para comemorar os 50 anos do Patinho. Por iniciativa da FDTE, o computador foi exposto também na unidade do Sesc da Vila Mariana, em São Paulo, durante o mês de outubro de 2022, e na Reitoria da USP, em fevereiro de 2023.
“Tivemos dois grandes objetivos ao mostrar o Patinho Feio publicamente”, informou o diretor de Operações da FDTE, José Roberto Castilho Piqueira. “Um, foi mostrar principalmente a crianças e adolescentes que o computador não nasceu laptop, tablet ou no celular, mas sim que passou por um avanço tecnológico enorme nos últimos cinquenta anos”.
O segundo, ele explicou, “foi exemplificar para a sociedade e para os poderes públicos que os investimentos feitos na universidade pública dão retorno para o país”. Piqueira ressaltou que “o Patinho Feio foi feito com verbas orçamentárias da Escola Politécnica e ajudou a formar e desenvolver a indústria de computadores no Brasil, com a criação de centenas de empresas e milhares de empregos qualificados, além de gerar bilhões de dólares para nossa economia”.
Pioneirismo – O Patinho foi totalmente idealizado, projetado e construído na Poli-USP. Ele é composto por uma caixa de cerca de um metro de largura, 84 centímetros de altura e 48 cm de profundidade. Era capaz de imprimir comandos e registrar códigos com uma memória de 4kb, capacidade quase um milhão de vezes menor que a de um celular atual.
“Na época só era possível produzir um computador de pequeno porte. Mesmo assim, o Patinho era maior do que os computadores utilizados a bordo pela NASA nas expedições da Apollo 11 à Lua”, destacou Lucas Moscato, desenvolvedor do projeto e docente aposentado da POLI-USP.
Não havia telas. Os códigos eram digitados em um teletipo e emitidos em fitas de papel perfuradas com marcações na linguagem binária (0 e 1). Registrado no papel após ser processado pelo computador, o código poderia ser lido diversas vezes pelo teletipo para imprimir o desenho ou o texto que o usuário desejasse.
A inauguração da máquina, no dia 24 de julho de 1972, teve presenças de peso, como a do governador de São Paulo à época, Laudo Natel.
Sobre a FDTE – A Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE) também completou 50 anos de sua criação, em dezembro de 1972. Foi idealizada por professores da Poli-USP com o objetivo inicial de liderar a construção do G-10, que veio a ser o primeiro computador comercial brasileiro.
A FDTE foi a primeira fundação instituída pela Universidade de São Paulo. Já desenvolveu mais de mil projetos de ciência e engenharia com órgãos públicos, institutos e faculdades da própria USP, Marinha do Brasil e empresas de grande porte, a exemplo da Vale, Petrobrás, Furnas, AES Eletropaulo, Grupo CCR. Entre as inovações tecnológicas produzidas nessas parcerias encontram-se, por exemplo, os sistemas de controle e segurança de linhas de metrô e trem de São Paulo e de metrô do Rio de Janeiro.